Fábio Tito/ g1

Quase meio milhão de cariocas não têm o que comer. Mulheres negras, com baixa escolaridade e no trabalho informal são as principais vítimas. Ao todo, são mais de 2 milhões de habitantes na cidade do Rio que estão vivendo com algum nível de insegurança alimentar na capital, seja esse leve, moderado ou grave. Ou seja, a fome está presente em 7,8% das casas do município.

É o que mostra um levantamento sobre insegurança alimentar feito pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), da UFRJ, em parceria com a Frente Parlamentar Contra a Fome e a Miséria, da Câmara Municipal do Rio. É a primeira vez que uma cidade brasileira faz esse estudo.

De acordo com documento, a fome extrema é mais frequentes entre as pessoas que vivem em áreas pobres de bairros como Penha, Madureira, Complexos do Alemão, da Maré e o Jacarezinho, ambos na Zona Norte.

O estudo

Idealizado em 2021, durante a pandemia da Covid-19, o relatório levou dois anos para ser iniciado. A metodologia aplicada utilizou a divisão da cidade nas Áreas de Planejamento (APs), que vão de 1 a 5.

Ao todo, duas mil pessoas – de diferentes bairros e que responderam pela família – foram entrevistadas entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano.

Dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) foram usados para comparação.

Para identificar a fome na capital fluminense, os pesquisadores utilizaram como referência a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que utiliza quatro critérios para definir a situação de vulnerabilidade das famílias: segurança alimentar; insegurança alimentar leve, moderada ou grave.

Entre as inseguranças, a primeira é descrita como uma piora na qualidade dos alimentos consumidos; a segunda se refere a uma redução na quantidade ingerida por adultos; enquanto a terceira (a grave) representa uma redução geral no consumo entre todos os integrantes da família, incluindo crianças — é a fome. Neste último caso, entram as pessoas que vivem com apenas uma refeição ao dia ou passam um dia inteiro sem comer.

É preciso ter melhores programas, diz pesquisadora

A professora e pesquisadora do Instituto de Nutrição da UFRJ, Rosana Salles, destaca que é importante que os órgãos públicos analisem se os programas ofertados são suficientes para mitigar o mapa da fome na cidade.

Cerca de 500 mil cariocas estão vulneráveis à fome, que passaram o dia inteiro sem comer ou fizeram uma única refeição ao dia. Quanto menor a renda maior em segurança alimentar grave ou seja maior a fome dos lados das famílias cariocas. Famílias que são chefiadas por mulheres ou pessoa com a cor da pele preta ou parda você olha maior vulnerabilidade em segurança alimentar grave. Podemos colocar também nesse resultado que a menor escolaridade também está relacionada a maior insegurança alimentar como também quando eu olho o chefe da família e que ele estava ou com o emprego informal ou principalmente desempregado”, lembra a especialista, que completa:

“Esse relatório traz bastante subsídio para o debate da discussão da política voltada a redução da fome da desigualdade na nossa população e que assim a gente pretende contribuir para redução das desigualdades sociais”.

Atualmente, os únicos três restaurantes populares municipais (em Bonsucesso, Bangu e Campo Grande) atenderam apenas 6,9% da população carioca.

As cozinhas comunitárias e o Programa Prato Feito Carioca foram acessados, de agosto a outubro de 2023, por apenas 2,1% dos moradores da cidade.

As visitas às residências de agentes comunitários de saúde também tem se mostrado escassas: 56,5% da população no munícipio relatou ter recebido nos últimos três meses.

A pesquisa revelou também, que além da fome, 15% dos lares cariocas não tiveram fornecimento regular de água ou sofreram com a falta de água potável. Dessas famílias, 27% se encontraram em situação de fome.

Fonte: G1 – Por:  Jefferson Monteiro, Bom Dia Rio

Deixe um comentário