HOSPITAL ORÊNCIO DE FREITAS, EM NITERÓI, TEM MAIS DE 1.800 PACIENTES NA FILA DE CIRURGIAS.

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Referência na região há décadas quando se fala em cirurgias, o Hospital Municipal Orêncio de Freitas, no Barreto, sofre com um problema crônico de falta de profissionais e de investimentos. As consequências se refletem na capacidade de atender à demanda: atualmente há pelo menos 1.800 pessoas aguardando por uma operação na unidade.

A vistoria do Sindsprev-RJ, sindicato que representa os profissionais de saúde, no Orêncio de Freitas e teve acesso às informações oficiais sobre a lista de espera por procedimentos. A maior fila é a das cirurgias de vesícula, que tem 1.165 pessoas. Em seguida, vem a de hérnias, com 600 pacientes em espera. No caso das operações urológicas, são 39 na fila. O número de doentes sem atendimento pode ser ainda maior, pois algumas especialidades ali atendidas têm suas filas organizadas em outras instalações da rede municipal, que encaminham os pacientes conforme aparecem as vagas, segundo funcionários do hospital.

Profissionais de diferentes setores do Orêncio de Freitas afirmam que a carência de cirurgiões e anestesistas é a principal causa do problema. Segundo funcionários do corpo médico que preferem não se identificar por medo de represálias, especialidades como proctologia e urologia só contam com um cirurgião cada, enquanto ginecologia tem dois. Nos últimos meses, procedimentos têm sido cancelados frequentemente por falta de anestesistas na escala de trabalho. No dia 26 de janeiro, as cirurgias ginecológicas tiveram que ser suspensas porque só havia um profissional da área. A carência, segundo funcionários, é de pelo menos três anestesistas na unidade.

A prefeitura não nega a existência da fila, mas atribui o problema à gestão anterior. Em nota, o governo explica que “a grande maioria dos pacientes que nela (na fila) estão são oriundos de outros municípios, principalmente de São Gonçalo. A falta de organização da gestão anterior de um sistema de referência gerou essa fila equivocada. O quadro de funcionários do hospital é suficiente para atender à demanda dos moradores de Niterói. A Fundação Municipal de Saúde entende que até que os outros municípios acolham seus pacientes contrarreferenciados, eles serão nossa responsabilidade, mas com priorização dos munícipes de Niterói e dos casos mais graves”. Porém, nas planilhas que listam os casos em espera por cirurgias de hérnia, por exemplo, a grande maioria dos pacientes é de Niterói.

Os problemas estruturais e de abastecimento também são evidentes. O prédio do ambulatório está completamente tomado por infiltrações. Quando chove, funcionários são obrigados a colocar sacos plásticos cobrindo arquivos de documentos e insumos hospitalares para evitar que sejam molhados por goteiras. Em dezembro, procedimentos chegaram a ser suspensos por falta de compressas cirúrgicas, usadas para secar o sangue ao longo das operações. A prefeitura afirma que o hospital “está abastecido” e que “existe um projeto de reestruturação em fase preliminar de estudos, o que independe das medidas de manutenção permanentes”.

No centro cirúrgico, duas das quatro autoclaves — equipamentos usados na esterilização de instrumentos — estão quebradas. Uma delas desde 2010, segundo bilhete colado na máquina. A prefeitura informa que as duas estão obsoletas e serão descartadas em breve.

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Ivone Suppo, diretora do Sindsprev-RJ, critica a situação em que se encontra o Orêncio de Freitas.

— É um absurdo um hospital que é referência em cirurgias estar funcionando bem abaixo de sua capacidade. Até quando essas pessoas vão ficar nessa espera? Não adianta falar que a maioria dos pacientes é de São Gonçalo porque não é. Mesmo que fosse, o sistema, como o nome diz, é único. Quer dizer que se o paciente é de São Gonçalo pode morrer na fila? — critica.


Já Clóvis Cavalcanti, presidente do Sindicato dos Médicos de Niterói, atribui a falta de profissionais às condições trabalhistas precárias:

— O grande problema é a falta de profissionais, pois a maioria recebe por Recibo de Pagamento Autônomo (RPA). Com isso, os trabalhadores vão cansando e deixam a rede de saúde. A solução seria a abertura de concurso público, com salário digno. Toda a rede sofre com a falta de medicamentos e equipamentos.

O vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL), presidente da Comissão de Saúde da Câmara, também acompanhou a vistoria e enfatizou que o cenário atual é devido à falta de concursos públicos:

— Vamos, junto aos demais vereadores, exigir que o governo realize concurso para médicos e outros profissionais.

Fonte: O Globo

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